quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Muda

Eu quero mudar minha cabeça.
Talvez deixá-la espetacularmente oca, 
sem eco nenhum além do extraordinário silêncio. 
Eu quero mudar o meu corpo. 
Talvez deixá-lo maravilhosamente translúcido, 
sem um ponto sequer de contato com o mundo. 
O fundo do poço sem fundo.
Eu quero mudar os meus olhos. 
Talvez torná-los assustadoramente rasos, 
folhas brancas desnudas.
Eu quero mudar os meus versos. 
Amuar minhas letras. 
Amparar o túnel no fim da luz.
Calçar luvas de espelhos.
Eu quero mudar meu andar. 
Envergar as pegadas na areia da lua 
que eu construí pra mim 
e nem sei se existe de fato.
Eu quero mudar de posição, 
mudar de opinião, 
mudar de casa e de língua. 
Quero mudar as referências e as aparentes penitências 
às quais me submeti.
Eu quero mudar minha pose de força e 
ser o caco quebrado, 
quebrantado, 
da ponta da foice de face cortada.
Eu quero. 
Quem disse que consigo?



12.02.2010

Nenhum comentário: