domingo, 23 de maio de 2010

'E hoje é outro dia'*

Ontem falei de ciência e tecnologia
de acessibilidade, de sexo e poesia.
Falei de saudade e de justiça
de destino, de religião e de feitiço
fui fã e entusiasta da sabedoria.
Entendi que não é a noite que vai embora
mas o sol que se aproxima.
Desejei que algumas coisas voltassem
e agradeci por outras eu ter perdido
ou sequer terem sido minhas.
Ontem eu ri com vontade
não tive sono nem fadiga.
Jamais imaginei que da vida
de um futuro Prêmio Nobel
eu participaria.
Ontem nenhum céu foi  limite
e as frases feitas, sempre repetidas,
perderam o efeito e foram substituídas.
A Idade Média mandou um aceno
e os anos idos algumas coisas esclareceram.
Ontem comi aspargos
dancei flamenco
misturei idades, cores e sentimentos
fui guria, messalina e confidente
fui amiga e dançarina de cabaret
com um tango preso aos meus pés.
Mas isso foi ontem...

E hoje...
já é outro dia....





23.05.2010 - 14h10min


Eu amo tudo o que foi
tudo o que já não é
a dor que já não me dói
a antiga e errônea fé
o ontem que dor deixou
e o que deixou alegria
só porque foi e voou
e hoje já é outro dia.

(Fernando Pessoa)

4 comentários:

Anônimo disse...

Tem-se a impressão de que ontem foi bem movimentado. Resta saber se é uma metáfora, ou se o tempo é exatamente esse.
Você é impressionante.

Ricardo Kersting disse...

Uma frase de interpretações diversas. Há um fundo compensatório? Será? Quando dizemos amanhã será outro dia, estaremos sinceramente jogando os problemas para o futuro que por sua vez a Deus pertencem.
"Hoje é outro dia"? Amanhã também!
Beijos

Simone Toda Poesia disse...

Anônimo

Neste caso, e só neste, sim, ontem foi ontem de verdade...rs... ontem, sábado à noite...rs...


Ricardo

Hoje é outro dia. Pessoa dizia. Eu repito. Se há um fundo compensatório, não sei. Bem... sei poucas coisas, quase nada, na verdade...rs...
Quanto aos problemas, quando os jogamos pra amanhã, amanhã chegaremos lá, e lá estarão eles, esperando por nós. Aí podemos decidir se queremos encontrar com eles depois de amanhã, ou não (se bem que, às vezes, eles nos acompanham por muitos amanhãs)...rs...

Ainda bem que tanto hoje quanto amanhã, inclusive o 'ontem que dor deixou, e o que deixou alegria', podem ser convertidos em poesia, né?rs

Abraços

Marcello disse...

Você gosta da ciência conversada, eu sei. Eu também.


Nada como um dia depois do outro.


Cello