domingo, 12 de junho de 2011

Rasgo


Sempre insuficiente tempo

Presente de grego

No bolso da vida

Breve, muito breve suspiro

Sopro de sofreguidão

Interrompido susto

No âmago da vida

Corte brusco de navalha cega

No que se pretendia vasto

Vaga sensação de infortúnio.



Cuidado ao guardar lembranças

Risos, assuntos, assombros

Embrulhados na caixa de Presente

Que se recusa a ficar no Passado

Inda que a queda a tenha estraçalhado.



Nada que doa, me vale a pena, poetaria Pessoa

Enquanto minha poesia é quase um gemido

De todas as perdas de todos os anos idos

E do último verão, congelado no derradeiro frio

De um inverno que custa a passar

Doendo-me muito mais que as juntas

Torcendo-me as entranhas

Estranhando-me os pensamentos.



Ainda assim, nenhuma mácula atinge

O profundo que não é ouro

Mas vale mais que qualquer brilhante.

Ainda assim

Ninguém nem nada preenche

O espaço vazio

Que assim ficará

Té que a terra cubra esses meus olhos

Que tocaram os dedos do impossível

E por ele devorados foram

Sem direito à réplica, súplica ou desistência

Sem direito algum

Além do gosto de alumínio

Na porta dos próximos anos.







12.06.2011 - 20h






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