quinta-feira, 29 de abril de 2010

Desconjunturas

Lá fora a noite fria
um som distante de lua
uma quietude paciente
um não-sei-quê previdente.

Fui eu?
Foi a lua?

Quantas vezes deitei meus açoites
quantas coisas disse sem lei
quantos alfinetes enderecei sem porte
quantos livros deixei de ler?

Sopro a espuma insistente
do banho recém tomado
com cheiro de flor
e cabelo orvalhado.
O sono sem sonhos
traduz o momento.
No ar, a caneta vazia
dança.








Escrever será poesia?










O bar ameaça um movimento
e fazem falta antigas companhias
na luzinha crua da mesa vazia
trancafiada entre as tábuas gastas
que lentamente se diluem
e num único gesto excluem
os lenços batidos de feridas ex-postas
à condenação das massas.
Os cartazes explicam sem consistência.
Nada resiste à resistência
e se tudo é palha
o fogo é bandido
e a água é só o contrário dele.


Amanhã
festa e festa e festa
pra ver se o corpo atesta
o que hoje a alma adivinha.








No mesmo instante
gravado no pouco que resta
vida e morte
severinas ou não
de mãos dadas
e pés descalços
sem qualquer direção.







29.04.2010 - 01h12min

Um comentário:

Alex disse...

Escrever do teu jeito, só não é poesia se tu não quiser.


Abração.