sexta-feira, 14 de maio de 2010

Justificativa

Escrevo.
Destilo meu medo
nas linhas finas das costuras
dos meus verbos.
Encontro avelãs nas dobras
dos trovões de dias passados.
Fabrico sacolas de risos
e enriqueço o mel dos meus dedos.
Escrevo.
Sem pensar, aqueço as chaleiras no fogo
das estrelas caídas da noite.
O dia assalta o começo de tudo
e a folha branca é veneno vermelho
rasgado de agitado oceano.
Escrevo.
Revejo o sol por instantes
té que a caneta se canse
e eu volte a ser oca:
zumbi sem alma nem alegria
invisível pedra nua sem pena
que me absolva dos atalhos
e das síndromes que viajam em mim.




Aos 23 minutos do dia 14.05.2010

Um comentário:

Ricardo Kersting disse...

"Escrevo desconheço os limites
onde começa o delírio
e onde termina a ilusão.."

Não creio sinceramente que tentaste algum dia conhecer limites. Na verdade teus escritos brotam de uma criatividade que vai além de quaisquer limites. Te vejo sempre esvoaçante em direção ao sol, como Dédalus, haveria "finito" mais distante?
"A folha branca é veneno vermelho" que nos atrai como moscas ao mel dos teus dedos. Não conheço outros vícios, nem os mundanos, todavia acredito que quando a eles nos lançamos vamos em busca deste infinito desconhecido. O que vem depois é o preço que se paga.