segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Angústia temporã
Depois da última hora da noite,
o dia dobra a esquina.
E a gente continua a medir o tempo
e a guiar a vida, pelos ponteiros
que rodam, que rodam, que rodam.
Passam sempre pelo mesmo lugar.
As horas são sempre as mesmas.
Por isso não são.
Marcamos o tempo
pra não perdermos a cabeça.
Contamos do tempo que passamos
pra não perdermos a história.
Nossas referências, baseadas nas horas tidas.
Tempo é hora. Lembrança é hora presa no tempo passado.
Ou será tempo preso na hora passada?
Talvez lembrança não seja nada,
além de um registro qualquer,
cuja única finalidade seja impedir
que façamos a mesma besteira
mais de duas vezes...
Tenho cá pra mim uma teoria muito particular:
o tempo, sua passagem ou sua lembrança,
não passa de um poema escrito com o cuidado de um artista.
Um poema engraçado, que ri da falta de tato da gente,
ao tratar com ele, presente, futuro ou passado.
Um poema com lacunas enormes, que a gente vai preenchendo
mesmo sem saber, mesmo sem nunca perceber,
mesmo sem sequer entender.
Um poema perfeitamente compreensível
caso o soubéssemos ler...
11.02.2008 - 02h18min
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